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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Elogio da Madrasta - Candaules, rei da Lídia

Sou Candaules, rei da Lídia, pequeno país situado entre a Jônia e a Cária, no coração daquele território que séculos mais tarde irão chamar de Turquia. O que mais me orgulha no meu reino não são suas montanhas rachadas pela secura nem seus pastores de cabras que, quando é preciso, enfrentam os invasores frígios e eólios e os dórios vindos da Ásia, derrotando-os, e os bandos de fenícios, lacedemônios e os nômades escitas que vêm pilhar nossas fronteiras, mas sim a garupa de Lucrecia, minha mulher.
Digo e repito: a garupa. Não traseiro, nem bunda, nem nádegas nem rabo, e sim garupa. Porque quando eu a cavalgo, a sensação que me arrebata é essa: a de estar sobre uma égua musculosa e aveludada, puro nervo e docilidade. É uma garupa dura e talvez tão enorme como dizem as lendas sobre ela, que correm pelo reino inflamado a fantasia dos meus súditos. (Todas elas chegam aos meus ouvidos mas não me irritam, antes me lisonjeiam.) Quando ordeno que ela se ajoelhe e beije o tapete com sua testa, de maneira que eu possa examiná-la à vontade, o precioso objeto alcança o seu mais feiticeiro volume. Cada hemisfério é um paraíso carnal; ambos, separados por uma delicada fenda de pêlo quase imperceptível que se afunda no bosque de brancuras, negrumes e sedosidades embriagadoras que coroam as firmes colunas das coxas, me fazem pensar num altar daquela região bárbara dos babilônios que a nossa extinguiu. É dura ao tato e doce aos lábios; vasta no abraço e cálida nas noites frias, um travesseiro macio para repousar a cabeça e uma fonte de prazeres no momento do assalto amoroso. Penetrá-la não é fácil; até doloroso, a princípio, e mesmo heróico pela resistência que suas carnes rosadas opõem ao ataque viril. São necessárias uma vontade tenaz e uma vara profunda e perseverante, que não esmorecem diante de nada nem de ninguém, como as minhas.

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